Quando Charles Dickens escreveu Um Conto de Natal, em 1843, não sabia que estaria criando uma tradição mundial e que se repetiria em todo os natais: o ato de dar presentes. No conto, o milionário sovina Scrooge é um velho empresário, solitário e que detesta o natal. Na véspera do dia 24, ele recebe a visita do fantasma de seu ex-sócio, mão-fechada como ele, dizendo que estava sofrendo muito por ter sido tão avarento. No outro dia, Scrooge estava ajudando todo mundo.
O que era para ser um simples ato de generosidade tornou-se um ato compulsivo de consumo. Bom para o capital. Compramos presentes até para as pessoas com as quais não nos damos muito bem. Mais do que sermos generosos, somos possuídos pelo poder do marketing de mudar a regra da oferta pela demanda e criar uma demanda pela oferta.
É no natal que o capital age de forma mais substantiva, principalmente na nossa subjetividade. Propagandas e estímulos do governo nos fazem comprar tudo aquilo que não compramos ao longo do ano e deixamos para o natal. Além de presentearmos outros, nos presenteamos. O problema é que o custo de nosso consumismo é que há alguns milhões de pessoas trabalhando de forma subumana para a produção de nossos presentes.
Basta pensarmos nos trabalhadores chineses com carga horária de trabalho de 12 horas diárias e dentro de navios, ou mineiros africanos à procura de minérios utilizados na confecção de celulares, tão procurados no natal. Ganham pouco, trabalham com armas apontadas para si e sob forma de escravidão. Como diz o articulista da revista Carta Capital, Pedro Estevam Serrano: “Em 2012, venha a destruição não do mundo e da vida, mas da morte que ronda nossa civilização”.