Quatro Cenários para a Economia da Europa

O euro não vai morrer do dia para a noite, mas parece cada vez mais improvável que a moeda comum europeia venha a sobreviver na sua forma atual. Os países europeus e as instituições financeiras internacionais insistem ainda a espera que a zona do euro se mantenha intacta, mas já estão preparando planos de contingência para algum tipo de rompimento. O Banco Europeu de Investimento, por exemplo, recentemente exigiu que os mutuários gregos concordassem com um mecanismo para pagamento de empréstimos, caso a Grécia venha a abandonar o euro.

Ninguém sabe exatamente quando a crise da zona do euro ocorrerá ou exatamente o que ela poderia provocar. E, embora o fracasso do euro causasse imensos choques econômicos e financeiros a nível mundial, no curto prazo, a economia dos EUA pode realmente se beneficiar da desgraça alheia. Os investidores internacionais já estão movendo seu dinheiro para fora dos países europeus mais problemáticos e estão investindo em locais mais seguros.

Se a zona do euro se divide, um grande fluxo de dinheiro pode derramar nos mercados norte-americanos. Em longo prazo, porém, o impacto vai depender de como se desenrola a cisão da zona do euro. Basicamente, existem quatro cenários, listados aqui do mais para o menos provável no curto prazo:

Convencer a Alemanha a Aceitar as Políticas

A Alemanha tem sido o mais forte defensor de reestruturação e da austeridade como a chave para resolver os problemas financeiros da Europa. Mas um por um, os aliados econômicos da Alemanha estão abrindo resistência a essas políticas. O colapso holandês tornou difícil cumprir as metas holandesas de orçamento. E na França, o presidente socialista François Hollande vem pedindo mais políticas prerrogativas, que provocaram consternação na Alemanha.

Mas o equilíbrio na Europa mudou, e a Alemanha pode não ter escolha a não ser fazer mais gastos – e mais empréstimos – para ajudar outros governos. No curto prazo, isso iria ajudar as economias da Europa pela redução do desemprego e limitar a gravidade das recessões. Mas o endividamento adicional também vai contribuir para a carga que os governos têm de transportar no déficit.

Algumas políticas desse tipo provavelmente serão adotadas, mas elas só adiarão, em vez de resolver, a crise da zona do euro. Na medida em que os resultados dos estímulos forem diminuindo, qualquer crise financeira seguinte pode ser pior. 

Políticas de Austeridade Forçam Maior parte da Europa a Entrar em Recessão

A Alemanha pode pagar o pato por causa do seu crescimento econômico, mas continua a promover a austeridade. O problema é que vários países europeus estão agora em uma forte crise econômica, incluindo a Espanha, que entrou oficialmente em recessão há pouco. No longo prazo, os países com dificuldades financeiras precisam cortar seus gastos, aumentar impostos, reduzir os custos trabalhistas e limitar seus empréstimos.

Mas um corte tão rápido nas finanças que um país em recessão tem que realizar pode tornar mais difícil a redução da dívida em percentagem do PIB – porque o PIB está encolhendo. Se a Alemanha prevalece e limita as políticas de crescimento como um curativo, os países que estão financeiramente fragilizados, podem se tornar incapazes de vender novos títulos às taxas de juros que possam pagar.

Nesse cenário, há uma maior probabilidade de uma recessão generalizada, que se espalha para os EUA e os riscos são maiores se os governos começarem a emitir títulos. Este poderia ser o cenário mais perturbador, combinando a desaceleração econômica com grandes choques no sistema bancário internacional. 

Os Países mais Fragilizados são Empurrados para Fora da Zona do Euro, um por um

Se tudo continuar no curso atual, o caminho mais provável é que os países mais fragilizados economicamente da zona euro terão de oferecer taxas de juros mais elevadas para vender seus títulos, e provavelmente, eles deixarão de ser capazes de conseguir estar dentro da zona euro. A Grécia provavelmente seria a primeira, o que iria alimentar especulações sobre Portugal, Espanha e até sobre a Itália. Por sua vez, isso também irá empurrar as taxas de juros ainda mais para cima dentro desses países, criando um círculo vicioso.

É menos provável no curto prazo, mas também difícil de evitar, eventualmente, se nada mudar fundamentalmente. Quão doloroso seria esse cenário? No lado negativo, os países deixando a zona do euro, poderiam causar uma série de choques aos grandes bancos que seguram a sua dívida. No lado positivo, a saída desses países da zona do euro iria trazer tranquilidade parar definir as suas economias em um curso para a recuperação. A Argentina, que tinha pareado a sua moeda ao dólar no início de 1990, sofreu uma grande recessão depois que desvalorizou sua moeda em 2001. Mas em 2003, sua economia estava crescendo novamente. 

A Zona do Euro se Divide em Duas Áreas Monetárias Separadas

A solução mais racional -, mas menos provável, por razões políticas – seria para a Alemanha e alguns aliados, como a Holanda, sair da zona do euro e criar a sua própria moeda. O euro continuaria a ser a moeda dos países do sul da Europa e podiam ser desvalorizadas, aliviando a pressão sobre esses mesmos países.

A consequência seria de uma recessão no sul da Europa por um ano ou algo assim. Os bancos ainda sofreriam algumas perdas depois, mas a partir das quedas de preços, em vez de padrões definitivos. Teoricamente, pelo menos, essa seria a melhor e menos perturbadora solução. 

Pode, com efeito, haver uma solução ideal. Em todos os quatro cenários, há uma crise financeira importante pela frente. Elas diferem apenas na gravidade da crise eventual e a data com a qual estariam prontas para acontecer. As piores políticas são as mais extremas: não fazer nada, ou ser duro e punitivo.

O melhor seria tentar manter alguma medida de crescimento econômico, evitando que os países que já estão muito endividados que aumentem ainda mais o seu endividamento. O objetivo mais realista neste ponto pode ser simplesmente evitar fazer as coisas piores e tentar minimizar os danos ao invés de maximizar os estragos com posturas mais austeras. 

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